Dos historiadores Luis Gustavo Reis e Eduardo Bonzatto.
A obra é composta por 42 ensaios divididos em 5 grandes temas: Provocações, Política, Diáspora, Ritmos e Violações.
Proximidade dos incêndios (Trecho do Prefácio)
Estes diálogos começaram em meados de 2006, quando os autores que assinam esta missiva confabulavam despretensiosamente sobre diferentes temas do mundo contemporâneo.
A prosa ganhou volume e extrapolou os limites da voz. Foi aí que decidiram fazer as palavras falarem – escreviam para prender as ideias ao papel. Agora, tempos depois, os diálogos estão reunidos em livro com título pretensioso, disposto a incendiar um mundo normatizado e anestesiado pelas armadilhas do pensamento dicotômico. Evidente que o título tem lá sua demasia, mas num tempo carente de análises críticas oferecemos aqui uma fuga da normose, um antídoto às disfunções de um corpo social adoecido.
Nunca é demais recordar que pensamento crítico não é ser do contra. Isso é pensamento linear e dicotômico. Pensamento crítico é ser complexo. Pensamento complexo é pensar com as diferenças, não com as semelhanças. Pensar com as desigualdades é pensamento único, portanto, estandardizado, ou seja, fascismo.
Polêmicos, perturbadores e controversos, os textos compilados dissidem do automatismo do concordo/discordo que achou terreno fértil no atual tempo histórico. Desde a capa, caótica, surrealista, perturbadora, sobretudo pelo personagem central que a ilustra, o livro explicita seu conteúdo transversal: o livre pensar.
A escolha de Fela Kuti, cujas ideias são escrutinadas em um dos artigos, não é aleatória. Ele personifica a potência, a contradição, a complexidade da experiência humana. Com punhos cerrados, emerge sob um ambiente urbano diminuído por sua grandeza. Fela é a alegoria do selvagem destruindo a civilização, conceitos inventados pela modernidade e que aqui tiveram suas conotações originais invertidas. Ou seja, civilização é barbárie e barbárie é civilização.
O leitor que se aventurar por estas páginas sentirá desconforto, repulsa, alegria, estima e uma miríade de impressões, mas certamente não sairá delas da mesma forma que entrou. Não que o livro arrogue portar alguma pedra filosofal, mas foi escrito para criar desconforto, rompendo os diques onde repousam as análises simplistas. Como explicou Milton Santos, o papel do pensador é incomodar, falar o que ninguém quer ouvir, desconsiderar aprovações e salvas de palmas.
Racismo, política, música, escravidão são alguns dos temas que perfilam nesses ensaios, que podem ser lidos ao sabor das preferências do leitor.
Chegará o dia em que os incêndios tomarão as cidades pelos cabelos. Por ora, ainda vivemos sob a ordem colonial que a tudo domina, principalmente aqueles que desejam seu fim. Esses ainda bebem das ideias de gente como Charles Darwin e René Descartes, cujas epígrafes estampadas neste livro denunciam o caráter.
Fela Kuti alertou que a crítica selvagem à civilização precisa fazer presença. Como Fela, queremos que os selvagens invadam o coração das metrópoles e os bárbaros avancem sobre a carcaça da civilização.
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